sábado, 23 de fevereiro de 2013
CHEGA DE TRISTEZA
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
A VIDA
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
O BATIZADO DA MARIA CECÍLIA DEU O QUE FALAR EM CASA
segunda-feira, 13 de junho de 2011
E FINALMENTE A RUMBA FALOU
Não me lembro qual era o programa, mas lembro que tentei mudar de canal quando anunciaram uma entrevista com Jair Bolsonaro e fui impedido, porque todos, afora eu e Lisa, estavam curiosos para conhecer a cara do autor de inúmeras manifestações homofóbicas.
Bastou a primeira resposta daquela coisa, para ouvirmos uma voz infantil, porém, numa linguagem clara, com fim de frase bem definido, sílabas bem articuladas e um timbre muito gostoso. “Esse cara é um babaca”. Era a Rumba, finalmente falando. Antes de comemorar o momento, tive tempo de observar que essa voz, assim que madura, chegará muito próxima da voz de Cris Delano, para mim, a melhor cantora brasileira (procurem ouvir).
Todos nós ficamos muito felizes e comemoramos. Lambada estava toda orgulhosa por ter sido a responsável pelos ensinamentos transmitidos à Rumba e mais orgulhosa ainda, pela lucidez da primeira manifestação daquela nossa menininha. Pra variar, a Lisa chorou. Valsa quis começar uma conversa com a Rumba, mas foi interrompida pela Salsa, que foi a única a ouvir a segunda resposta do político. “Escroto, fascista e enrustido. Gente desse tipo deveria ser proibida de viver em sociedade.” Voltamos as atenções para a TV e na terceira resposta, que vinha contida de um ódio profundo pelos homossexuais, o Tom apertou a tecla off do controle remoto. “Não precisamos continuar ouvindo esse idiota falar.”, afirmou o gato.
Samba ainda estava brigando com o Tom, porque achava que deveríamos ouvir toda a entrevista daquele monstro, mas Lambada, pedindo licença, perguntou: “Posso aproveitar este momento pra contar uma história?”. Samba cedeu e todos silenciaram para ouvir a saci.
Lambada iniciou contando que, há muito tempo, num recanto da Floresta Amazônica, nasceu um saci com duas pernas. “Que bacana!”, interferiu a Valsa. “Não foi dessa forma que a comunidade recebeu a notícia.”, rebateu Maracatu, fazendo sinal para que Valsa deixasse a Lambada continuar a história. Lambada continuou, relatando que muitos sacis olhavam para aquele ser com repugnância; outros ficaram penalizados; e alguns poucos, iniciaram um movimento para isolar a saci que dera a luz àquele ser estranho. A mãe demonstrava certo desespero com a situação, pois sentia que, mesmo não externando esse sentimento, todos queriam explicações, mas ela não as tinha e sofria com a possibilidade de ver seu filho sendo vítima de preconceito no futuro.
O sacizinho cresceu um pouco e, nos seus primeiros passos, tropeçava nas pernas e caía, invariavelmente. “Tadinho!”, sussurrou Samba. Lambada continuou contando que os outros sacizinhos riam muito e começavam a isolá-lo de suas brincadeiras. Passados mais alguns anos, o saci, já se equilibrando, percebeu que, com duas pernas, poderia ser muito mais rápido que todos os sacis da comunidade e aí passou a ser vítima da inveja de alguns, já que ele era o mais solicitado para as tarefas mais difíceis. Essa inveja fortaleceu o preconceito de outros, que, veladamente, se juntaram contra aquele saci. “O impressionante”, dizia Lambada, “é que quanto mais o ódio por ele crescia, mais ele amava sua comunidade; maior era sua dedicação à ela.”
Continuando, contou que os anos foram mostrando para a comunidade que a diferença daquele saci não era apenas na aparência, mas também, na capacidade de amar. Todos diziam que ele não era apenas mais veloz que os outros, mas também amava mais que todos. Ele dizia que não amava mais, nem menos, mas simplesmente de forma diferente. Por fim, depois de ter adquirido o respeito de todos e de ter se tornado um dos líderes, o saci foi embora sem avisar ninguém, deixando a comunidade saudosa, mas feliz por ter convivido muitos anos com aquele ser tão especial. Acontece que o saci resolveu ir embora de sua comunidade quando descobriu que havia nascido com outro defeito. No seu peito batiam dois corações.
“Dizem que hoje ele anda por todas as florestas e cidades deste país espalhando seu amor e que quando sentimos súbitas alegrias sem motivos aparentes, é ele quem está passando em nossa frente, mas, de tão rápido, nem conseguimos vê-lo.”, finalizou Lambada.
Confesso que foi difícil conter as lágrimas e ficamos todos sem voz, com exceção de Rumba, que por estar em fase final dos estudos, acostumou-se a colocar suas dúvidas. “Será que os homossexuais também têm dois corações, por isso, podem amar mais?”, perguntou. “Não! Eles não amam mais, nem menos, apenas de forma diferente.”, respondeu a Salsa. “E aquele deputado não entendeu isso ainda?”, replicou a cadelinha. “Um dia ele vai entender. Um dia todos vão entender”, profetizou Maracatu.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
SENSO ESTÉTICO É UMA QUESTÃO CULTURAL
sexta-feira, 13 de maio de 2011
O SUPER-HERÓI CAPITOM
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
VENCENDO PRECONCEITOS
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
DESMATAMENTO NO HORTO FLORESTAL
“Aqui, a destruição do meio ambiente começou na década de 70, do século passado, quando começamos a abandonar o Horto, a represa Itupararanga, a Estação Ferroviária e tudo que tínhamos de mais bonito e valioso, para cuidarmos da industrialização.”, falei à Lisa, numa de nossas conversas diárias e matutinas. Falávamos sobre a notícia que dava conta de mais uma devastação de eucaliptos na cidade de Mairinque. Desta vez, no Parque Municipal do Horto Florestal Antonio Anselmo. O cúmulo do paradoxo.
Lamentávamos o fato e buscávamos explicações, quando Maracatu, o saci macho, ainda do lado de fora da casa, não agüentou e pediu licença para entrar e interferir na conversa. “É simples! Desconhecimento histórico de quem deu a ordem para cortar os eucaliptos”, disse ele.
A Lisa, que é licenciada em história e gostou da intervenção, perguntou qual era a relação nesse caso.
“Quem deu a ordem deve estar apoiado naquela teoria que coloca o eucalipto como uma vegetação menor e até prejudicial ao solo, porém, se esquece que Mairinque tem origens na ferrovia.”, ensinou o saci. “E o que a ferrovia tem a ver com o corte de eucaliptos?”, perguntou Samba, que estava deitada no tapete, que fica na porta da cozinha. “Com o corte, nada, mas sim com o plantio. A madeira era o combustível usado pelas locomotivas, por isso, a antiga Estrada de Ferro Sorocabana criou hortos florestais em várias cidades por onde a ferrovia passava.”, respondeu Maracatu.
Salsa, que estava sob a janela da cozinha, degustando um pedaço de pão, tinha tudo pra não entrar na conversa, mas acabou não resistindo. “Você bem disse, Maracatu. A madeira era o combustível; não é mais; então, nada impede que seja cortada.”, ironizou a cadela. Maracatu, um pouco irritado, continuou, “Ainda não entrei no caso do corte em si, estou primeiro historiando. O Horto Florestal de Mairinque é um caso especial, porque ali funcionava uma espécie de laboratório, já que foram plantadas várias espécies de eucalipto com o objetivo de se chegar no apropriado para a utilização deste como combustível. Por isso, aliás, é que Mairinque era comparada a Campos do Jordão. O ar daqui era muito bom para tratamento de algumas doenças respiratórias, porque os eucaliptos garantiam essa qualidade.”, concluiu Maracatu.
Tom, o gato, estava dormindo no pufe e, vez ou outra, abria os olhos como que pedindo para a conversa manter um nível de volume aceitável, mas percebia-se que, mesmo sonolento, estava entendendo o rumo da discussão. Quem não estava entendendo, era a Valsa, a cadelinha mais nova. “Tudo bem, essa história é muito bonita, mas o que tem a ver com os cortes dos eucaliptos?”, perguntou ela. “Tudo a ver...”, respondeu Lambada, a saci, que até ali, se mantinha muito atenta, continuando, “alguém que conhece essa história, que sabe da importância dessa árvore na criação deste município, jamais se arriscaria a passar pela vergonha de autorizar essa devastação. Aliás, essa pessoa não deve nem conhecer o Hino Oficial de Mairinque. Se conhecesse, não daria a ordem, pois imaginaria que não foi de graça que os autores do hino colocaram um papel de destaque para os eucaliptos naquela letra.”, ressaltou Lambada.
“Parabéns Maracatu! Parabéns Lambada! Realmente perfeita essa análise.”, sentenciou a Lisa, que completou: “E, mais uma vez, a falta de investimentos na cultura acaba gerando conseqüências lamentáveis e altamente prejudiciais para uma comunidade inteira.”
“E vocês, que estão aqui desde a década de 60 do século passado e vivem falando de investimentos na cultura e nas artes, não fizeram nada?”, perguntou a Salsa. “Salsa! Você já ouviu alguém falando que pregou no deserto?”, perguntou o Tom, com a voz um pouco rouca, por conta de um pigarro, natural em quem acaba de acordar. Salsa, se dirigindo para o quartinho, gritou que sim. “Pois é! Acho que esse é o caso.”, concluiu o gato. “E se não derem um basta nessa devastação, os mairinquenses vão acabar pregando no deserto, literalmente.”, profetizou a Samba, também gritando, pois acompanhava a Salsa.
Terminamos ali nossa conversa, mas ainda deu tempo de ouvir a Valsa, correndo atrás das outras cadelas, quase na porta do quartinho, perguntar pra Samba: “Se Mairinque virar um deserto, você não acha que as pessoas vão querer criar camelos e a gente acaba perdendo nosso espaço?”. Samba não respondeu, mas balançou a cabeça e sorriu.
terça-feira, 15 de junho de 2010
CASTIGO
No início da semana, no trabalho, eu, Chiquinho e Wagner conversamos sobre as dificuldades de se criar um filho nestes tempos, porque, se descuidar, os filhos acabam determinando os rumos da coisa e você termina refém. O Chico tem dois filhos homens e uma menina e o Wagner um casal. Como não tenho filhos, acabei mal comparando com a minha situação de refém das minhas cadelas, meus sacis e meu gato.
Nós três trabalhamos juntos e dividimos o mesmo espaço há vinte anos, porém, pelas características de cada um, convivemos muito bem e penso até que daria para ficar mais uns vinte anos juntos. Nos divertimos muito, filosofamos, nos indignamos, sem esquecer da questão do trabalho, que, por incrível que possa parecer para quem nos conhece, tocamos com muita seriedade.
Mas, falávamos sobre a força das crianças e a personalidade de alguns jovens e adolescentes, que conseguem dominar e comandar uma família (não é o caso de nenhum dos dois). Nossas opiniões são diferentes, mas não divergentes. Eu, para variar, acho que falta cultura, aqui representada por seu braço mais forte: a arte.
Um dia depois, ao chegar de São Roque, onde dá aulas e dirige um grupo de teatro formado por adolescente, a Lisa me contou que o pai de uma das alunas a proibiu de se apresentar com o grupo num evento, como forma de castigá-la, porque esta havia cometido uma falta qualquer na escola.
Diante da coincidência, contei a conversa que tive no trabalho e elogiei o fato de a aluna da Lisa ter obedecido o pai, argumentando que uma menina que faz teatro entende com mais facilidade o que significa o respeito pelo pai. “É a arte!”, comemorei.
“É! Mas foi exatamente a arte que o pai pensou em cortar como forma de castigar a menina.”, disse o Tom, em cima do pufe, de onde acabara de acordar, ainda meio bocejando. “Eu ia dizer isso.”, se manifestou a sempre muito sensível Lambada. “Acho que são saudáveis esses castigos. É preciso fazer com que o adolescente sinta que cometeu uma falta, por isso, é importante que os pais os impeçam de fazer algo que gostam.”, disse eu, pensando no papo que tive com meus amigos. “Concordo. Mas precisava ser o teatro, já que, como você mesmo disse, foi o próprio teatro que ensinou a menina a respeitar o pai?”, argumentou Maracatu. A Lisa abriu um sorriso irônico, que normalmente me irrita, mas desta vez, entendi que havia uma incoerência na minha fala. Olhei para o tapete, onde se encontravam Samba, Salsa e Valsa, em busca de apoio. “Acho melhor colocar a Valsa no teatro, ou na música, pra ver se ela acalma um pouco”, disse a Samba. A Salsa nem precisava dizer nada. Seu olhar era mais irônico que o riso da Lisa. “Quero fazer dança!”, disse a Valsa, já esticando as patas dianteiras para o alto e dando um rodopio.
“O pai poderia ter cortado duas semanas de internet.”, disse a Salsa; “ou três finais de semana de baladas”, disse a Samba; “ou dois meses sem beijar o namorado”, disse a Valsa. Inevitável! Todos riram.
Assumi minha incoerência e ficamos nos questionando sobre a necessidade de fazer as crianças e os adolescentes terem contato com as artes, mas de forma muito séria e não somente como uma forma de ocupar seus tempos. “Ainda vai demorar um pouco pra entenderem isso, principalmente o poder público.”, concluiu Lambada.
A Lisa quis continuar no tema e ressaltou o ambiente isento de preconceitos no mundo das artes, o que, em sua opinião, contribui ainda mais para a formação de verdadeiros cidadãos. “Sem falar na possibilidade de descobrir talentos artísticos.”, lembrou Maracatu. “Tenho absoluta certeza de que entre os adolescentes envolvidos em atos de vandalismo, nenhum está ligado de alguma forma às artes.”, garantiu Lambada, chamando Maracatu para a saída noturna. “Você tem razão. É porque a arte trabalha a sensibilidade da pessoa.”, definiu o Tom, com ar intelectualizado.
Debatemos mais um pouco, concluindo que, mesmo que seja como um trabalho de formiga, devemos insistir diariamente na importância da arte para a formação do ser humano e pedir para os pais, também diariamente, que não castiguem seus filhos tirando a possibilidade do contato deles com as artes.
Mais tarde, quando as cadelas se dirigiam ao quartinho pra dormir, ao passarem pela minha janela, ouvi a Salsa falando pra Valsa: “Tô morrendo de sono. Amanhã, não quero que você acorde cantando.” “Você não entendeu nada, Salsa?”, reclamou a Valsa. “Brincadeirinha... brincadeirinha...”, disse a Salsa, bocejando.
João Bid