quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

DANÇA CONTEMPORÂNEA EM CASA

(publicado em 30/10/2006)

Hoje não precisamos, eu e Lisa, de despertador pra acordar. Estavam todos, as cadelas e o casal de sacis, no gramado, embaixo da janela do quarto, falando muito alto. Destacava-se a voz de Lambada, a saci fêmea, que dirigia uma sessão de exercícios matinais. Ficamos meio putos, porque havíamos dormido tarde, já que no dia anterior assistimos ao belo espetáculo “Trilhos”, produzido pela Lisa, com o grupo de dança contemporânea “Avus”, e, na empolgação, ficamos até mais tarde conversando sobre o evento.

O que me deixou cabreiro, é que Maracatu e Lambada sabiam disso, já que os vi na apresentação e tenho certeza que eles nos viram indo para o bar.

Abrimos a janela para brigar, mas não conseguimos, porque a cena que vimos era para ser contemplada: Maracatu, Samba e Salsa alinhados no gramado e Lambada, vestida de colant, com sapatilha no pé e faixa na cabeça, criava uma coreografia de dança contemporânea.

Assistimos por um momento e percebi que Lambada tentava passar aos outros as coreografias que havia assistido no dia anterior. Notei ainda, que Lambada já estava com os trejeitos da protagonista do espetáculo. Além disso, ela exigia que os outros não só executassem as funções dos bailarinos do espetáculo “Trilhos”, como os chamava pelos nomes destes.

Quando Lambada permitiu uns momentos de descanso, chamamos todos para uma breve conversa. Perguntamos o porquê daquilo e Lambada disse que ficou tão empolgada com o espetáculo “Trilhos”, que queria montá-lo com o pessoal da casa. Concordamos com Lambada em relação à beleza do espetáculo, mas opinamos que eles deveriam se reunir e criar um novo espetáculo.

Salsa, sempre muito sensata, lembrou que havia sugerido exatamente isso para Lambada. “Mas ela cismou que os componentes do grupo Avus são insuperáveis e devem ser somente imitados.”, contou Salsa.

Concordei que o Avus realizou um trabalho muito bom, mas argumentei que o grupo que estava se formando em casa precisava de uma identidade, mesmo que o primeiro trabalho não saísse tão bonito e competente como o “Trilhos”.

Lambada concordou e Samba foi logo pedindo para que liberássemos os CDs e os livros para que eles pesquisassem e tentassem montar algo novo. “Vamos precisar também de uma pequena estrutura de som e luz.”, pediu Samba.

Eu e Lisa liberamos tudo e fomos trabalhar.

Ao chegarmos do trabalho, da calçada dava pra ouvir a música de Antonio Nóbrega tocando nos fundos da casa. Pensei comigo: “a pesquisa foi boa”.

Ao chegarmos na lavanderia, sem que nos notassem, vimos CDs da Inezita Barroso e de outros expoentes da nossa música caipira espalhados na prateleira de materiais de limpeza e Lambada dirigia uma reunião.

Sua última fala foi a seguinte: “Com muita garra, faremos um espetáculo de dança contemporânea muito bom. Não vamos superar o Avus, mas faremos bonito”.

Soubemos depois que o título do espetáculo que eles bolaram é “A revolução das entidades folclóricas brasileiras” e que o nome escolhido para o grupo é “BrAvus”, com o “B” e o “r” pintados de verde e amarelo respectivamente.

João Bid

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