segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

SAMBA, SALSA E OS LIBANESES

(publicado em 07/09/06)

Nesse tempinho que parei de escrever, até guerra aconteceu, mas as coisas em casa continuam as mesmas com relação ao dia-a-dia das minhas cadelas e do casal de sacis.

Só foi estourar aquela bobagem de guerra no Líbano, pra Samba passar o dia inteiro na fossa.

Ocorre que, poucos dias antes, o Michel, um grande amigo libanês, passou o dia em casa com a família. Pra variar, a Samba se apaixonou por ele e por todos os seus familiares. A Salsa sempre é mais cabreira, demora pra pegar intimidade, mas, se bem tratada, se entrega. Assim, as duas ficaram amigas da família do Michel e foi inevitável que elas associassem a guerra aos novos amigos.

A Salsa, menos passional, veio me perguntar se eu já havia ligado pro Michel. Eu disse que sim e que o sufoco era muito grande, mas os parentes dele estavam protegidos nas montanhas e outros estavam saindo do país. Salsa foi pra lavanderia explicar pra Samba, mas não adiantou muito. Ela preferiu ficar quieta em seu canto até que Maracatu e Lambada voltassem do Líbano com notícias mais concretas.

É! Maracatu e Lambada se mandaram pro local da guerra prometendo voltar no outro dia.

O quintal em total silêncio, Samba na lavanderia e Salsa na varanda para que tivéssemos a sensação de vigilância por parte dela, mas percebia-se que seu pensamento estava longe.

No dia seguinte, Maracatu e Lambada voltaram com notícias nada otimistas. Eles ficaram com a impressão que essa guerra iria muito longe.

Samba queria saber dos parentes do Michel e Lambada informou que a situação poderia ficar difícil, mas que naquele momento estava tudo bem. Só assim Samba ficou um pouco melhor, porém, inconformada. “É difícil pra gente conhecer pessoas tão belas e saber que a intolerância e o preconceito podem gerar conflitos tão graves. Conhecemos uma família de libaneses e gostamos muito, mas poderíamos ter conhecido uma família israelense e ter a mesma impressão.”, disse Samba. “É que você olha de uma forma diferente para as pessoas. Talvez olhe com o coração, não se importando com suas diferenças. Aliás, respeitando ou nem notando essas diferenças.”, disse Salsa, expondo o resultado de um dia pensativo na varanda. Maracatu acrescentou: “Some-se a isso a questão da cultura característica de cada lugar e o desrespeito chega ao limite do absurdo. O mínimo que se exige é que a cultura de cada povo seja respeitada.” Lambada deu o exemplo do Brasil, que agora come no MacDonald e ouve música americana, o que, em sua opinião, está contribuindo para desfigurar nossa cultura. “Uma guerra silenciosa.”, definiu Lambada.

Samba olhou pra mim e perguntou se existiam pessoas pensando nisso e tentando acabar com essa bobagem. Pensei em citar a luta dos grupos de defesa dos direitos humanos, mas me calei e fui pra dentro de casa, já que teria que contar que alguns equivocados ainda questionam esse trabalho.

Da varanda, ouvi Maracatu aconselhando as cadelas a pararem de latir pro pessoal do lixo nos finais de tarde, porque isso poderia significar uma forma de preconceito, mas Salsa tranqüilizou-o: “Aquilo é uma grande brincadeira. Você não percebeu que a gente late balançando o rabo. Então! O pessoal do lixo já conhece o código.”

Obs: Aquela guerra acabou e a família do Michel não foi atingida fisicamente, mas outras guerras já ocorreram, e continuam ocorrendo. E a Samba continua indignada com esse comportamento humano, “se é que podemos chamar assim esse comportamento”, como diz a Samba.

João Bid

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