quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

AS CADELAS E OS SACIS JÁ ESTÃO ENSAIANDO

(publicado em 10/07/06)

O que deveria ser uma grande festa acabou se resumindo em palavra: decepção.

Maracatu e Lambada chagaram ontem da Alemanha; ficaram quinze dias acompanhando a copa e, mesmo com a queda do Brasil, resolveram ficar por lá. É claro que poderiam ter voltado várias vezes pra casa, já que, pra eles, estar lá ou aqui é uma questão de um pulinho; literalmente. Mas, arranjaram um cantinho por lá e ficaram.

Ao chegarem, o assunto “copa do mundo” já estava vencido, não só porque o Brasil perdeu, mas porque Samba e Salsa comemoravam a grande notícia da semana: A Prefeitura de Mairinque fará um convênio com a Sociedade Recreativa Mairinque - SRM e transformará o antigo cinema num Centro Cultural, com teatro.

Maracatu e Lambada não tiveram tempo sequer de mostrar suas habilidades com a língua alemã, porque a Samba, depois de dar os abraços e as boas vindas, foi logo anunciando: “Finalmente Mairinque vai ter um teatro.” Lambada, que é mais sensível às artes que Maracatu, não se conteve e, depois do susto, se pôs a chorar de alegria. Maracatu, ainda meio chateado com a derrota do Brasil, definiu: “Nada como um dia após o outro. Um dia você está triste e no outro recebe uma notícia que só dá alegria”. Quando cheguei na lavanderia, nem o fato de o local estar todo alagado, resultado da enorme chuva que caiu na madrugada, foi motivo para reclamações, porque todos estavam muito felizes com a boa nova.

O silêncio só se estabeleceu, quando falei que já conhecia a notícia. “Desde quando você sabe disso?”, perguntou a Salsa. Respondi que esse projeto faz parte do programa do atual prefeito. “E por que você não falou antes? Eu não precisa passar por mal informada.”, esbravejou a Salsa, me mostrando um artigo que falava sobre a falta de informação das minhas cadelas, Samba e Salsa, em resposta ao artigo “A vida é tão simples...”.

Maracatu interferiu na conversa pra dizer que nossa discussão era inócua, porque, agora, Mairinque terá um Centro Cultural e isso é o que importa, mas Salsa insistiu em saber o porquê de estarmos preocupados em reivindicar a construção de um teatro, sendo que estava prevista a reforma do cinema e Mairinque terá um teatro em breve.

Expliquei que a idéia de reformar o cinema é antiga e muito boa, mas nem podemos imaginar o tempo que isso levaria para se concretizar, por isso, insisto na idéia de se construir um teatro pequeno para atender a demanda existente, que, aliás, cresce a cada dia, enquanto esperamos a reforma do cinema, que pode demorar vários anos. “No máximo dois anos e meio.”, enfatizou Lambada. Perguntei como ela havia chegado a essa conclusão. “Se essa reforma está no programa deste governo, obviamente ela ocorrerá neste governo, que termina daqui a dois anos e meio. Mas o artigo que lemos promete pra este ano”, concluiu a saci. Continuei expondo que o fato de um projeto estar no plano de governo de um político não garante que aquele projeto será executado: vide tantas promessas não cumpridas que testemunhamos todos os dias em todo o país, porém, Lambada, resumia tudo com três frase: “Promessa é promessa. Não há como não cumprir. O prefeito poderia passar por mentiroso e não ficaria bem para alguém que recebeu a confiança das pessoas nas urnas.” Maracatu, que é um saci mais vivido, sugeriu: “Já que você duvida, mantenha um placar na sua coluna: ‘Faltam dois anos e seis meses para terminar a reforma do cinema’ e vai mudando até que a obra seja inaugurada.” Respondi que pensaria no assunto e saí da lavanderia.

À tarde, eu e Lisa percebemos um movimento diferente no quintal e fomos quietinhos até a janela da lavanderia. O que vimos? Os figurinos das peças de teatro da Lisa espalhados e cada um escolhendo uma roupa; minha estante de partitura armada e Salsa regendo uma orquestra imaginária; Samba, com meu microfone, arriscando uns agudos; e Maracatu e Lambada iniciando uma coreografia de dança contemporânea.

Pensei comigo. Se não sair essa reforma do cinema, a decepção vai ser grande aqui em casa.

Obs: Não fiz o placar sugerido por Maracatu e o Centro Educacional e Cultural foi inaugurado três anos e três meses depois daquela data. Foi um sufoco pra conter a ansiedade das cadelas e dos sacis. Agora, vai ser complicado explicar que não vai ser fácil eles apresentarem naquele teatro os 35 espetáculos que montaram durante esse tempo.

João Bid

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