(publicado em 03/04/2006)
A Samba é a cadela que sempre está à frente das coisas, a que toma as iniciativas. A Salsa é mais recatada, mais paciente, e sempre coloca a Samba para resolver as paradas. O Maracatu, o saci macho, gosta de aprontar suas traquinagens, mas tem seu lado mais centrado, colocando suas opiniões sempre com muita consciência, diria que ele é quase um intelectual, com o defeito de ser um pouco machista. Lambada, a saci fêmea, é uma Lady. Traquina também, mas com gosto refinado, recatada e sempre deixando que Maracatu imagine que a última palavra é a dele.
Mas, voltando ao assunto, quando a Samba parou de falar, a Salsa completou, com sua voz mais grave e um pouco rouca, algo quase sensual, “Samba! Acho que ele não está prestando atenção.”
Resumindo, Samba fez um apanhado deste tempo em que ela e a Salsa moram comigo, as alegrias, as tristezas, os protestos etc. Falou sobre o fato de estarem se dando bem com Maracatu e Lambada e sobre códigos que deveríamos cumprir daqui pra frente. Mas, uma frase ficou em meus ouvidos: “Vocês não poderiam ser chamados de humanos...”.
Já refeito do êxtase, questionei sobre aquela frase, para o que, Salsa respondeu, “Às vezes a Samba fala demais. Não é nada contra você.”. Samba retrucou se dirigindo a mim, “Falo demais, reconheço que falo demais, mas me responda se podemos pensar outra coisa de pessoas que se curvam para as ordens de um George W. Buch, que só pensa em invadir a cultura dos povos, com a pretensão de impor sua cultura através de armas?”. Observei que, no quartinho, todos acenaram positivamente e fiquei sem resposta ante a tamanha lucidez. Só pude concordar.
De lá pra cá, assumi minha condição de analfabeto cultural e não deixo de me reunir com as cadelas e os sacis periodicamente para beber daquela fonte tão cristalina.
Tenho levado altos papos e pretendo reproduzi-los aqui.
As cadelas e os sacis não gostam dessa exposição e até me proibiram de contar estas coisas. Mas, depois de lerem o primeiro artigo, acabaram concordando que ninguém vai acreditar e eles ficarão isentos de responsabilidades sobre qualquer manifestação.
João bid
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