segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A REUNIÃO COM AS CADELAS E OS SACIS

(publicado em 03/04/2006)

Nem bem cheguei no quartinho e a Samba disparou a falar. Ela falava uma palavra atrás da outra me olhando nos olhos. Salsa somente acenava positivamente a cada frase de Samba. Maracatu ao meu lado quieto. E Lambada, passando a mão nas costas de Samba, vez ou outra, pedia pra ela se acalmar.

Eu, encostado no batente da porta, com os olhos marejados, maravilhado com o momento. Minha cadela estava à minha frente falando comigo. Não prestei atenção em uma só palavra; estava extasiado com o timbre da voz de Samba: uma mistura de Leila Pinheiro com Gal Costa. Sabe aquela voz aguda, mas aveludada? Pensei que qualquer dia iria testar a afinação da voz de Samba. “Se o resultado for positivo, vou convidá-la a fazer as vozes femininas no meu show.”, dizia meu subconsciente.

Olha eu achando que todo mundo sabe do que estou falando! Obviamente, várias pessoas não leram meu artigo anterior. Então, vou explicar rapidamente. Estou falando sobre a primeira vez que falei com minhas cadelas, a Samba e a Salsa. Uma semana depois que trouxe para morar comigo o casal de sacis, Maracatu e Lambada, numa reunião marcada para acordarmos algumas coisas com relação à convivência entre mim; minha mulher, a Lisa; as duas cadelas; e o casal de sacis. Podem me chamar de louco, mas tenho certeza que muitas pessoas que estão lendo este artigo, se de fato forem muitas, conversam com seus cachorros diariamente e sabem do que estou falando.

A Samba é a cadela que sempre está à frente das coisas, a que toma as iniciativas. A Salsa é mais recatada, mais paciente, e sempre coloca a Samba para resolver as paradas. O Maracatu, o saci macho, gosta de aprontar suas traquinagens, mas tem seu lado mais centrado, colocando suas opiniões sempre com muita consciência, diria que ele é quase um intelectual, com o defeito de ser um pouco machista. Lambada, a saci fêmea, é uma Lady. Traquina também, mas com gosto refinado, recatada e sempre deixando que Maracatu imagine que a última palavra é a dele.

Mas, voltando ao assunto, quando a Samba parou de falar, a Salsa completou, com sua voz mais grave e um pouco rouca, algo quase sensual, “Samba! Acho que ele não está prestando atenção.”

Resumindo, Samba fez um apanhado deste tempo em que ela e a Salsa moram comigo, as alegrias, as tristezas, os protestos etc. Falou sobre o fato de estarem se dando bem com Maracatu e Lambada e sobre códigos que deveríamos cumprir daqui pra frente. Mas, uma frase ficou em meus ouvidos: “Vocês não poderiam ser chamados de humanos...”.

Já refeito do êxtase, questionei sobre aquela frase, para o que, Salsa respondeu, “Às vezes a Samba fala demais. Não é nada contra você.”. Samba retrucou se dirigindo a mim, “Falo demais, reconheço que falo demais, mas me responda se podemos pensar outra coisa de pessoas que se curvam para as ordens de um George W. Buch, que só pensa em invadir a cultura dos povos, com a pretensão de impor sua cultura através de armas?”. Observei que, no quartinho, todos acenaram positivamente e fiquei sem resposta ante a tamanha lucidez. Só pude concordar.

De lá pra cá, assumi minha condição de analfabeto cultural e não deixo de me reunir com as cadelas e os sacis periodicamente para beber daquela fonte tão cristalina.

Tenho levado altos papos e pretendo reproduzi-los aqui.

As cadelas e os sacis não gostam dessa exposição e até me proibiram de contar estas coisas. Mas, depois de lerem o primeiro artigo, acabaram concordando que ninguém vai acreditar e eles ficarão isentos de responsabilidades sobre qualquer manifestação.

João bid

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