segunda-feira, 23 de novembro de 2009

MINHAS CADELAS E MEUS SACIS

(publicado em 21/06/2006)

Há quase seis anos, no final de 2000, Samba e Salsa, minhas duas cadelas, vieram morar comigo, vindas das mãos carinhosas e caridosas da Terezinha Magela. Nasceram na rua e a Terezinha as recolheu para sua casa, onde ficaram até que eu as levasse pra minha.

Nossa relação sempre foi muito legal: eu dou ordens e elas não atendem; elas querem sair na rua, eu não deixo; etc., mas ficou ainda mais interessante, quando, recentemente, elas resolveram conversar comigo. E só se manifestaram porque eu levei um casal de sacis, o Maracatu e a Lambada, pra morar em casa também e, no começo, elas quase enlouqueceram.

Hoje, convivem, a Samba, a Salsa, o Maracatu e a Lambada, em plena harmonia, mas logo que o casal chegou, foi um horror.

Por falta de espaço, tive que colocar o casal de sacis junto com as cadelas e a confusão se estabeleceu logo no primeiro dia. Lembro-me que o casal chegou um pouco antes do almoço, horário em que as cadelas costumam dormir. Maracatu não resistiu aos pelos longos da Salsa e foi logo fazendo vários cachinhos, que a Salsa odiou, mas, como ela, a Salsa, é muito tímida, não soube reagir, por isso, foi acordar a Samba, pra que esta, que é mais esperta, resolvesse o caso, mas a Samba estava numa correria danada, pois a Lambada a acordou puxando seu rabo, coisa que ela não aceitou. Eu, sem qualquer experiência, tentava acabar com a confusão aos gritos, mas, por mais que gritasse e corresse de um lado para o outro, nenhum deles me ouvia, ou fingia não ouvir.

A confusão só acabou quando Maracatu percebeu que a Samba estava quase mordendo a perna da Lambada. Maracatu deu um salto, pegou a Lambada pela cintura e, numa agilidade impressionante, pulou para o quintal da vizinha.

O ambiente ainda estava tenso, quando Salsa me olhou muita séria, virou e se dirigiu para o quartinho. Samba então, que é sempre muito alegre, me deu as costas e, sem balançar o rabo, acompanhou a Salsa. Naquele dia, elas não comeram, fizeram xixi nos quatro cantos do quintal e nem se aproximaram da porta da lavanderia, o que me deixou muito preocupado.

Nos dias que se seguiram, percebi que a confusão continuava, mas resolvi não me meter, ficando apenas na observação para evitar algo pior. Mas, não me meti.

As cadelas sempre tiveram o hábito de cochilar na parte do dia para ficarem mais atentas à noite, porém, naqueles dias, elas só conseguiam dormir à noite, quando o casal de sacis saía para passear e voltava somente de manhã.

Passados dez dias, Maracatu bateu na porta da lavanderia e disse que precisava conversar comigo. A princípio me assustei, porque não sabia que os sacis falam, mas estava tão preocupado em resolver a situação, que deixei pra analisar o fenômeno mais tarde. Sentamos no degrau e Maracatu me falou que haviam chegado num acordo e a situação estava controlada, mas Samba e Salsa queriam fazer uma reunião para selar o acordo e ter uma conversa aberta e muito séria comigo. Imediatamente perguntei se as cadelas também podem falar. Maracatu riu e me contou que os cachorros só não falam com a gente, porque acham que não vale a pena. Os cachorros, vim saber depois, entendem que seria muito difícil explicar para nós, seres humanos, que nossos valores são absurdos e só dificultam nossas vidas. Isso, contarei depois.

Na hora marcada, estávamos lá, eu, Samba, Salsa, Maracatu e Lambada, para nossa reunião, que só terminou quando Maracatu e Lambada precisaram sair para a caminhada diária, mas foi muito produtiva.

Só não conto agora, porque a reunião merece um artigo inteiro. Quem sabe o próximo.

João Bid

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