terça-feira, 24 de novembro de 2009

CALCINHA PRETA? NINGUÉM GOSTOU.

(publicado em 23/05/06)

Sábado estávamos todos na sala: Eu e Lisa, deitados no sofá; Samba e Salsa, no tapete; Maracatu, em cima do barzinho; e Lambada, enrolada na cortina. Sempre acreditamos que dentro da casa só nós devemos ter acesso, mas, depois da vinda de Maracatu e Lambada, vez ou outra, convidamos todos pra entrar, mesmo porque as cadelas já deixaram bem claro que se sentem melhor no espaço reservado pra elas, fora da casa. Com relação aos sacis, mesmo sabendo que não adianta fechar portas, há uma relação de respeito pelos espaços e eles só entram em casa quando convidados.

Ocorre que sábado estava muito frio e decidimos não sair de casa, mesma decisão tomada pelos sacis. Samba e Salsa não saem mesmo. Nem querem! Então, convidamos todos para assistir televisão.

Televisão é algo difícil de engolir no dia a dia e no sábado então, é terrível. Com exceção das TVs públicas, nada presta. São vários programas religiosos e os humorísticos são sem graça, que mais servem para os onanistas de plantão do que para o entretenimento das pessoas que não estão afins de sair de casa. Essa observação, aliás, foi feita por Maracatu, que foi quem insistiu em não assistir aos programas das TVs públicas, se dizendo de saco cheio de programas culturais.

Trocando de canais, encontramos um daqueles programas onde as bandas mais famosas do país apresentam seus sucessos. Eis que o apresentador chama o grupo “Calcinha Preta”. A Samba ficou assustada, porque, dias antes, ela havia tomado uma dura, porque tentou roubar uma calcinha preta do varal, mas se aliviou, quando viu quatro pessoas entrando no palco. Lambada comentou: “Nossa... quanta gente bonita!”, exatamente quando começava a apresentação. Após alguns segundos, Salsa perguntou o quê era aquilo. A Lisa respondeu que achava que era um grupo de forró. Achava, porque não estava conseguindo identificar o ritmo. Maracatu perguntou o porquê de tantas pessoas para cantar uma única melodia. Eu não soube explicar, mas tentei falar, quando a Salsa pediu silêncio pra escutar a letra. Nas primeiras rimas, Lambada se manifestou: “Acho que isso é um programa humorístico. A letra é uma piada. Eles estão rimando coração com emoção e isso é coisa primária. É pra morrer de rir.”.

Falei que várias músicas tinham somente o objetivo de fazer as pessoas dançarem e fui interrompido pela Samba, que alertou para o fato de que nem pra dançar “aquela coisa” servia.

Olhei para Salsa e não tive tempo de perguntar se estava gostando. Ela se levantou, virou para a Samba e a convidou pra irem pro quintal. Samba nem vacilou: pediu licença e saiu com a Salsa. Olhei para trás e não vi mais Maracatu e nem Lambada.

Antes de mudarmos de canal, eu e Lisa debatemos um pouco sobre a liberdade dos artistas de se manifestarem e o cuidado que temos que ter ao emitirmos nossas opiniões para não sermos taxados de preconceituosos.

Cá entre nós, também não gostei do tal “Calcinha Preta”. Concordo com as cadelas e com os sacis. Sabe quando uma pessoa fica numa situação constrangedora na frente da televisão e acaba sentindo uma certa aflição? Foi assim que me senti. Nunca vou revelar essa minha opinião em público para continuar politicamente correto, mas fico muito triste em saber que existe muita coisa boa sendo produzida no país, porém, o brasileiro está “proibido” de ter acesso. Uma pena!

Engraçado mesmo foi a conversa de quintal, no domingo de manhã. Salsa fala pouco, mas vai fundo quando abre a boca. “Foi pior que filme de Silvester Stalone. É traumático ver aqueles jovens do tal ‘calcinha preta’ tentando cantar, tentando dançar, tentando agradar e conseguindo só encher o saco.”, disse ela.

João Bid

2 comentários:

  1. Hahahaha.
    Suas cadelas e sacis têm toda razão. O pior é que não são apenas as lingeries que estão ocupando o espaço, que deveria ser dedicado aos verdadeiros artistas, na mídia brasileira. Tem muita fruta, bunda e banda que aparece, fala, fala, fala e não diz nada. Infelizmente, são estes os produtos da indústria cultural. Ah, infelizmente há pessoas que compram estes produtos.

    Abraço.

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  2. Hahahaha.
    Suas cadelas e sacis têm toda razão. O pior é que não são apenas as lingeries que estão ocupando o espaço, que deveria ser dedicado aos verdadeiros artistas, na mídia brasileira. Tem muita fruta, bunda e banda que aparece, fala, fala, fala e não diz nada. Infelizmente, são estes os produtos da indústria cultural. Ah, infelizmente há pessoas que compram estes produtos.

    Abraço.

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