sexta-feira, 1 de abril de 2011

A FAMÍLIA AUMENTOU

“Vocês não querem ficar com este cachorrinho? Ele foi abandonado na rua.”, perguntou a Yasmim, uma menina de nove anos, que mora em frente à nossa casa e que estava acompanhada de suas coleguinhas, também residentes na vizinhança. A Lisa respondeu que não podia, porque já tínhamos três cadelas e um gato, e pediu que elas procurassem alguém que pudesse adotá-lo. Era final de tarde e as meninas saíram pelo bairro com o cachorrinho no colo.

A Lisa virou-se pra mim e disse: “Você sabe pra quem vai sobrar, não sabe?” Eu disse que sim, mas botei fé no poder de convencimento das meninas.
Valsa, ao ver as meninas chegarem com o cachorro, veio para perto do portão e, assim que elas se foram, toda interessada, sugeriu: “Peguem a cadelinha pra gente. Ela é tão bonitinha!”. “Não temos condições, Valsa. Além do trabalho, acho que nem espaço teria. E é cachorrinho, não cadelinha”, respondi, sem tanta segurança assim. “Eu ajudo a cuidar. E é cadelinha, não cachorrinho.”, respondeu ela.
Mais ou menos onze da noite, ouvimos um choro agudo e doído que vinha da rua, o que bastou pra Lisa sair e ver o que estava acontecendo. Em minutos, estava a Lisa de volta, chorando e com o cachorrinho no colo. Combinamos que cuidaríamos dele até conseguirmos alguém bem bacana pra adotá-lo. Ele ficou dentro de casa naquela noite e acho que dá pra todo mundo imaginar como a sala se apresentou no outro dia.
De manhã, abrimos a janela e as cadelas já estavam reunidas na garagem no maior alvoroço, porque haviam percebido a novidade. Samba perguntou se iríamos ficar com a cadelinha, ao que respondi que ficaríamos até conseguir alguém que quisesse. “Posso ficar brincando com ela, então?”, perguntou a Valsa, toda empolgada. “Pode, Valsa, mas, pelo que vi, é um cachorrinho.”, disse a Lisa. 
O primeiro interessado no cachorro desistiu quando descobriu que era, na verdade, uma cadelinha. “Eu falei!”, disse a Valsa, que estava deitada na grama, esperando o desfecho da conversa pra continuar brincando com a, agora, cadelinha. 
Divulgamos na internet e um amigo, vendo nosso sufoco, disse que ficaria com a cadela, mas precisaria de uns quinze dias para se estruturar.
Resumindo, passados dois dias, a cadelinha preta, com patas e peito brancos, já havia conquistado todo mundo em casa e foi batizada com o nome de Rumba. 
Neste momento, ainda estamos nos adaptando, pois a Rumba tem em torno de três a quatro meses e necessita de cuidados especiais. Quem já se adaptou foi a Valsa e ajuda bastante, brincando o dia inteiro com a Rumba.
Maracatu e Lambada, que não se manifestaram durante esse tempo, pois, decerto, já sabiam sobre o desfecho da história, ficarão responsáveis pelo ensino de comunicação com os humanos, mas pedimos para eles não terem pressa, já que é bacana que a Rumba curta bastante sua infância para depois se dedicar aos estudos. Por enquanto, a Valsa vai fazendo a ponte entre nós e a Rumba. 
O Tom ficou meio puto nos primeiros dias, pois era obrigado a dividir o interior da casa com a Rumba, mas agora está animado, mesmo porque, as meninas reivindicaram e a Rumba já está com elas do lado de fora. “Por um instante me senti inseguro, pensando que poderia perder meu reinado nesta casa.”, disse o gato, já com um sorriso no canto da boca. Ainda não retomamos a varanda, mas temos confiança que isso ocorrerá em breve.
Acho que não contei que todos os nossos animais têm dois nomes: Samba de Lourdes, Salsa Filomena, Valsa Maria e Tom Ravioli, este último, em homenagem ao nosso amigo Tom Ravazolli. Então, faltava o segundo nome da Rumba, o que se resolveu durante o Fespima – Festival de Performance Individual, organizado pelo Professor Giovani em Mairinque. Trouxemos o Roberto, ator paulistano, para se apresentar no último dia do festival e, de sábado pra domingo, ele ficou em casa, quando conheceu nossa família inteira e observou que a Rumba tem olhos tristes. A partir daí, a Rumba ganhava um segundo nome. Ficou Rumba Carolina, em homenagem à moça da janela, criada por Chico Buarque. Chique, não?
Enfim, a família aumentou e Rumba, que nem se lembra mais do abandono de que foi vítima, já não guarda tanta dor, a dor de todo este mundo, e não quer saber de ficar na janela, corre por todo o nosso quintal, carregando seu olhar triste, mas em busca de uma felicidade, que já se percebe começa a tomar conta da cadelinha. 

João Bid

3 comentários:

  1. olá... a forma como vc escreve...me remete a minha infância...Sitio do Pica-pau amarelo....Que eu amava...E o legal de tudo e saber que vc vivenciou suas Historias.bjs Márcia Bueno

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  2. João!!!! MUITO LEGAL!!! ADOREI!!! O texto tá lindo e nos leva mesmo a viajar mentalmente. PARABÉNS!!

    Felicidades, agora aumentada, junto com a família.

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  3. João
    Mais uma história linda!
    Boa sorte a Rumba, que já é dona de toda sorte do mundo porque foi parar no portão de vocês.
    beijos
    Lilian

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