quinta-feira, 3 de março de 2011

QUANTA COISA BOA!

“Posso me considerar uma privilegiada, pois a arte tem me proporcionado muitos prazeres. Assisti muita coisa boa nos últimos tempos e sei que foram boas, porque em todas essas oportunidades saí com a sensação de trazê-las pra casa e ir saboreando devagarinho suas mensagens, seus símbolos, suas performances artísticas etc. Sem exceção, ri e chorei muito em todos esses espetáculos, em sua grande maioria, teatrais.”, disse a sempre sensível Lambada, a saci fêmea, que com Maracatu, seu companheiro, não perdeu um espetáculo sequer dos que eu e a Lisa escolhemos para assistir.
Estávamos reunidos no quintal, numa dessas noites quentes, olhando pro céu e falando de arte. Samba ao lado da cadeira da Lisa, Salsa ao lado da minha, Valsa correndo pelo gramado atrás de vagalumes e o casal de sacis em cima do telhado do quartinho, para ficar mais próximo dos galhos do abacateiro que cresce no vizinho. O Tom, como todo gato, um ser extremamente noturno, estava pelos quintais da vizinhança. Vez ou outra, escutávamos uns miados mais enfezados e altos, também característicos do Tom.
Os sacis sempre contam os espetáculos para as cadelas e para o gato com todos os detalhes, porque desenvolveram um método de contar as coisas de forma que os animais acabam enxergando o que está sendo relatado. Maracatu e Lambada pedem para as cadelas e para o Tom fecharem os olhos e entram em suas mentes com as imagens e sons que viram e ouviram. Não me peçam pra dar detalhes desse método, pois nem consigo imaginar o que seria isso. Eu e Lisa pedimos pra que os sacis nos contassem suas aventuras dessa forma, mas nos disseram que só dá certo com animais. 
Mas... conversávamos sobre todos esses espetáculos e brincávamos de Oscar, tentando escolher os melhores, porém, tarefa impossível. A arte nos toca de maneiras diferentes e por diferentes motivos. Resolvemos então, cada um escolher um espetáculo e falar sobre algo que o tocou, pois havia unanimidade no que diz respeito ao prazer sentido por todos, em todos eles.
Maracatu não abriu mão de começar escolhendo a linguagem popular do “Nativos Terra Rasgada”, grupo de teatro de rua, que está apresentando “Pindorama, a saga de um Cristo”. “Achei fantástica a versão bem humorada e cheia de críticas que o grupo apresentou sobre a vinda de Cristo para o Brasil.”, definiu o saci. “Quero entrar nessa brincadeira também!”, gritou Tom, em cima do muro, saindo do meio das folhas do abacateiro. Rapidamente, explicamos nossa proposta e Samba interrompeu pra falar sobre sua escolha. “Para mim, o show ‘Matheus Convida’ foi emocionante, pois, além das canções apresentadas, achei muito bacana a interferência da ‘Cia de Eros’, interpretando uma poesia do Matheus.”, lembrou a cadela. “Na verdade, a ‘Cia de Eros’ deu um banho na peça ‘Era uma vez’, com interpretações surpreendentes e segurando com maestria um texto bastante pesado para os adolescentes, que são.”, proclamou Tom, cá entre nós, deixando suspeitas de que escolheu essa peça porque estava interessado em garantir um espaço na cama da Lisa, já que ela é a diretora do espetáculo; mas, enfim, defendeu bem seu ponto de vista. Lambada se encantou com a peça “Desterro”, interpretada pelo grupo “Coletivo Cê”. “Achei muito bem construído o texto, grandes atores e atrizes, uma direção perfeita. Realmente me emocionei demais. Talvez o fato deles terem ocupado os espaços do casarão da Capela Santo Antônio, tenha contribuído para minha escolha, mas sei que fiquei maravilhada.”, definiu a saci. “Eu fico com a ‘Trama Cultural’. Gosto de dançar aqueles rocks que o Mário Sérgio canta, lembrando Raul, e achei lindo aquele menino dançando enquanto o Rodolfo dizia uma poesia.”, disse a Valsa, que havia desistido dos vagalumes e estava em cima da minha toalha de banho, que ela havia pego na janela do quarto.
Eu e Lisa tínhamos decidido não opinar, pois seria muito difícil para nós, já que gostamos de todos, e não queríamos arriscar sermos injustos com nossos sentimentos. Mas, faltava a Salsa, que ficou o tempo todo voltada para o clarão da lua, sem interferir em nenhum dos depoimentos. “Falta você Salsa!”, pediu o Tom. “Parece que você não está gostando da brincadeira!”, questionou Valsa. “Muito pelo contrário. Eu estava divagando pelos espetáculos enquanto vocês falavam.”, falou a cadela, que escolheu a peça teatral “Do jeito que você gosta.”, de Shakespeare, encenada pela “Companhia Elevador Panorâmico”. “Gostei muito de todos os espetáculos, mas fico com Shakespeare. Duas horas e meia ouvindo o relato da Lambada e me pareceu apenas um minuto de tão belas imagens que foram produzidas, um figurino lindo e interpretações inesquecíveis. Durmo sempre com aquelas imagens.”, concluiu a cadela, que cada vez mais me emociona com sua sensibilidade.
“E o show da Nana?”, perguntou Tom. Ninguém se atreveu a falar de Nana Caymmi. O silêncio se instalou para continuarmos ouvindo aquela voz e lembrando das belíssimas interpretações, que trouxemos pra casa e não merecem comentários. 

João Bid

2 comentários:

  1. Estou do outro lado do oceano, mas fico intrigada o que pensará esse grupo de mentes, saci, samba, e todos que entram nessa consciencia mas deixe que lhe diga fico curiosa , mas gosto muito, outro dia fiquei ate as 2 da manhã para ler as anteriores, continue mais algums dias será necessário um livro, ja pensou nisso com certeza...................iara

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  2. João

    que coisa mais linda este universo que você cria.
    adoro, adoro a arte de imaginar.
    vou te seguir no meu blog, espero conseguir pois ainda não fiz isso ainda.
    Mande sempre para o uol. O yahoo, pouco uso.
    bjão carinhoso

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