As últimas foram as de Adriano Stuart e
Magro Waghabi. Adriano adorava o vocal do Catavento, desde os tempos de Kiko e
Chico. Ele dirigia o programa “Som Brasil”, da Globo, na década de 90, e nos levou diversas vezes
para nos apresentarmos lá. Era nosso grande amigo, com quem passamos muitas
noites em botecos paulistanos. Magro, era do MPB4, grupo vocal que serviu como
inspiração para o início da carreira do Catavento, e seu principal arranjador
vocal durante mais de 40 anos. Uma vez, no fim da apresentação do show
“Adonirando”, do Catavento, no Mistura Fina, um espaço nobre do Rio de Janeiro,
vi o Magro na plateia, fui ao seu encontro e perguntei o que ele estava fazendo
ali. “Sou fã de vocês.”, disse-me ele. Imediatamente falei que iria buscar um
CD para presenteá-lo, mas ele disse que havia comprado, por isso estava ali:
“...queria conferir ao vivo o que ouvi no CD”. Foi uma convivência de
raríssimos encontros pessoais, mas de constantes contatos virtuais. Ele me
deixou a impressão de ter ido antes do combinado, porque estava sempre agitado
e toda vez que conversávamos falava-me sobre um novo projeto.
Por último, minha mãe. Para ela, escrevi algo
na internet, que reproduzo aqui: “O
abacateiro do vizinho nasceu muito próximo do vértice que une quatro vizinhos e
está completamente carregado. Ontem, a Lisa observou que o abacateiro é muito
generoso, porque seus galhos avançam os muros e ele distribui igualitariamente
seus frutos entre os quatro vizinhos. Minha mãe era assim. Passou sua vida
distribuindo seus frutos entre os quatro filhos que teve. Hoje, olhei para o
abacateiro e pensei que a quantidade de abacates do
lado da nossa casa era menor que a quantidade que estava para o vizinho do
lado, mas acho que o vizinho do lado deve pensar a mesma coisa. Assim somos
nós, os filhos. Sempre achamos que nossa mãe reserva sua melhor parte para
outro irmão, ou irmã. Minha mãe se foi, mas o abacateiro está lá. E ambos
continuam nos oferecendo seus exemplos.”
“Chega de tristeza!”, falou a Samba, segurando no meu
braço e impedindo-me de estender uma peça de roupa que eu acabara de tirar da
máquina de lavar. “Não, Samba. A música do Tom e do Vinícius chama-se Chega de
Saudade”, informei à minha cadela mais velha. “O que eu tenho a ver com essa
conversa?”, perguntou o Tom, meu gato, que vinha em direção à lavanderia.
Expliquei que eu estava falando da música do Tom Jobim com o Vinícius de
Moraes. “Vai, minha tristeza e diz a ela...”, cantarolei. “Eu disse chega de
tristeza nesta casa. Não estava falando da música.”, reforçou a Samba. “Concordo.”,
interferiu a Valsa do meio do gramado, onde tentava se livrar das brincadeiras
da Rumba. “Vai, nossa tristeza...”, cantarolou a Rumba. "O que quero
dizer, é que muitas outras coisas, e boas, aconteceram pra gente e está na hora
de levantar esse astral.", insistiu a Samba.
"Você poderia começar escrevendo uma crônica, bem
humorada, sobre a renúncia do Papa Bento XVI.", disse Lambada, a saci, que
aparecera entre as folhas do abacateiro. "Benedicto XVI!", corrigiu
Maracatu, seu marido, também do abacateiro. "Crônica bem humorada sobre
Benedito XVI? Sobre um assunto tão sério como esse?", questionou Samba.
"Acho que é uma grande idéia, porque você poderia brincar com o fato de no
Brasil, e só no Brasil, o Papa ser chamado de Bento.", disse-me Valsa,
colocando uma interrogação na cabeça de todos, inclusive na minha. "É
verdade. Bento não é o mesmo que Benedito, no entanto, o Brasil chama o
Benedito de Bento.", concordou Lambada.
Lembrei-me que estava com a TV ligada quando um dos
cardeais anunciou o nome do novo papa e que também tomei um susto ao ouvir o
cardeal anunciando Benedicto XVI e dali a alguns minutos a Globo já o chamava
de Bento. Aquilo me chocou, mas com o tempo fui me acostumando. Agora, com esse
alerta da Valsa, me voltou à cabeça aquele momento e perguntei se alguém ali
tinha alguma opinião sobre o porquê dessa mudança de nome, quando era mais
simples e óbvio chamar o Papa de Benedito.
"Acho que é porque soa melhor.", arriscou a
Samba. "Acho que ficaram com medo que começassem a chamá-lo de Dito.",
falou Tom. "Não quero pensar que seja por preconceito.", falou Rumba,
que tem os pelos quase que totalmente pretos.
Instalou-se um silêncio, que foi quebrado por
Maracatu: "É melhor não escrever sobre isso.".
Eu havia gostado do tema, mas concordei com Maracatu.
Se eu resolvesse escrever sobre isso, iria chegar, inevitavelmente, na questão
do Santo Negro Benedito e teria que me aprofundar nas críticas. Quando estiver
inspirado, volto a escrever e escolho um tema menos polêmico.
João Bid